quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Quando ele morreu aidético e vão em 1989 eu e meus pais já havíamos voltado para o Brasil - eu não o vi morto, nem pude visitar seu túmulo. Em Nova Iorque, quando o mundo deixava os piores noventa anos de sua existência, dita contemporânea feliz vanguardista desenvolvida, enquanto ainda estamos atolados nas idéias de sucesso medievais e cristãs, minha mãe me colocava num vestido rosa de lã rosa, com meias escuras e grossas e sapatinhos, com o cabelo curto bem penteado. Eu tinha cinco anos. Era outono e cada um de nós sabia que ele não ultrapassaria o inverno. Os dias eram cinzas, marrons, alaranjados, um de cada vez e cada vez mais, as cortinas do apartamento de tijolinho eram azuis, e o ar ali dentro tudo era muito perfumado. Consigo sentir o perfume até hoje; quando me arrumavam para ir para lá eu ficava feliz por que ia ver aquele cara magro morando num lugar bonito e cheiroso, eu era a felicidade de um sempre recluso na mesma cama triste. Acho que eu achei que ele ia melhorar, até certo ponto, quando me disseram que não. Uma doença ruim, mas muito difícil de uma criança pegar, minha mãe dizia ao meu medo, e todo mundo ficou preocupado por eu saber (tão rápido e tão nova) que em menos de cem anos eu ia deixar de existir.

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