terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MARISA na revista ficcoes

Oi amiguinhos!

Marisa está no site da revista ficcoes, publicado sob o pseudonimo de Renata Hirsch. Aqui está o link. entrem lá! Comentem!

Estou com problemas para postar por que to morando fora por um tempo e meu apartamento tá sem internet e, de vez em quando, sem água quente. E a falta de acentuacao, cedilhas, circunflexos e til, se dá devido ao fato de que este aqui é um teclado em espanhol. É isso aí, espero poder voltar a postar aqui em breve.
Abracetas a todos!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

nota de viagem #3



João,
te escrevo essa carta com uma caneta emprestada por Juliana, uma menina fofa de Aracaju. O homem cujas chaves eu encontrei veio me agradecer hoje, coloquei-as num envelope e deixei com a Carmen na portaria. Carmen gorda filha da puta, e aquele filho tarado dela, entra no nosso apartamento sem bater, quando quer, e fica aqui um tempão, puxando papo, sentado na sala. Ele tem as chaves. Outro dia a Ju estava de toalha e ele entrou aqui. Ela saiu correndo para o quarto e fechou a porta. Aposto que quando não estamos ele abre as gavetas e cheira nossas calcinhas e se masturba gozando nos nossos lençóis se esfregando todo. Nojento. Antes de sair e me sentar aqui, com um livro do Pedro Juán Gutierréz (leia, Trilogía Sucía de La Havana, acho ele a cara do seu primo), deixei um bilhete para as meninas, dizendo que eu não demoraria. Talvez eu demore. Noite passada tive um sonho perturbador. Eu estava grávida de um amigo meu, ele dizia sem parar que eu estava grávida de nove meses dele. E a gente nem se gostava, eu só tinha encontrado ele pra decidir o nome do nosso filho, então ele veio com todos aqueles nomes bizarros e do antigo testamento que ele curte e eu fui cortando todos. Era um menino. Então eu sugeri: João. E ele gostou, ficaria João. Olhei para minha barriga grávida e sorri, pensando em você. Sei lá o que isso significa. Então eu acordei. Odeio sonhar que estou grávida, sempre acontece. Sei que acontece com todas nós mulheres paranóicas ou não. Vejo agora, então, as mães passeando com seus filho(a)(s) pelo parque e não creio que seja uma má idéia para a vida. Mas depois dos trinta. Adoro cheiro de criança. Adoro mãos de criança. Hoje minha mãe me enviou uma foto minha de quando eu era pequena, no dia do meu aniversário de quatro anos. Vou ver se mando pra você com isso que estou te escrevendo. Pais ficam saudosos quando a gente fica fora de casa, sabe. Pense nisso quando for fazer seu intercâmbio. Pense que a comida vai ser horrível e você vai se sentir cansado, como depois de um pesadelo. Vai mudar sua vida. E a solidão dos quatro primeiros dias é de chorar. Depois, você faz amigos, e bebe, e escreve cartas. Lê livros. Pega uma gripe. Vive, enfim. O Fabrício tá fazendo contagem regressiva pra eu voltar. Faltam dezessete dias. Te escrevo mais. Um abraço.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

nota de viagem #2; cordilheira



O silêncio em forma escultural. Rio turvo que veio descendo abaixo dos altos que não foram nem são nossos, nem de ninguém, mas de algo que mesmo nomeado não justificou nada. São hostis a ponto de amar tanto a liberdade que fazem de tudo para que ainda a possuam. O ar é de todo oco, irrespirável. O trem que passa nos despreza. Terra má que não deixa nada crescer, o sal que envenena quem se atreve a nascer, sol entrando na pele consome como o fungo ao seu alimento. Tempestade de areia dentro dos meus olhos. A neve impiedosa que não derrete e não parte. Abre una ventana.
"Ya estamos en la cordillera, chicas!"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

nota de viagem #1



Aqui sou carne dura, vivo em uma residência estudantil, suas portas pintadas de vermelho e escadarias muito antigas. Todos os pisos rangem. O zelador, muito simpático,disse que foi um orfanato, construído faz uns cem anos. É tudo bem feito, como art noveau ou um pouco antes disso, mas um tanto descuidado, como um lugar que tem boas intenções em existir, mas que existe sem as boas intenções dos outros. Santiago: cidade; Santiago, Andes. Não dá pra dizer muito mais do que isso, principalmente por que é essa a primeira vez em alguns dias em que escrevo em português. Me peguei, por exemplo, muitas vezes falando espanhol sem pensar que estava falando espanhol, mas que estava simplesmente falando. Aconteceu isso agora, com um dos brasileiros que mora comigo. Penso em espanhol, língua fixa, língua manca. Está me substituindo. Aqui sou folha branca, sou terra vermelha. Às vezes vinha seca, às vezes água corrente. Pedra morna. Janela quebrada.