quarta-feira, 27 de maio de 2009

contragostos

Foi um alívio ver o sangue na calcinha, certamente, depois de quatro horripilantes dias de atraso. Não tive estômago para fazer um teste. Porém, algumas horas depois, sentada no bar às três da tarde (almoço coletivo tardio de sábado, cheio de cerveja, todos aqueles amigos em volta discutindo sobre alguma coisa provavelmente relevante) fui pega por um silêncio fatal. Naqueles últimos quatro dias eu gastara horas pensando em como eu daria a notícia de uma possível gravidez ao senhor. Eu te ligaria nervosamente e combinaria um encontro urgente em qualquer lugar ao seu contragosto e se o senhor recusasse - com uma seriedade nojenta - eu o assustaria com um choro triste e desesperado, dizendo-lhe que era necessário e lhe narraria todos os testes de farmácia e o inchasso ruim no corpo. O que aconteceria? Talvez eu me submetesse a um aborto, mesmo que isso me levasse à prisão ou à morte. E se tivéssemos o filho? Nos conheceríamos melhor? Pai e mãe? Ou nos destruiríamos? Pois desconheço o senhor. Nada disso aconteceu, felizmente. Hoje carrego a sensação estranha de que o senhor não me deve mais nada e que não precisamos pronunciar palavras um ao outro.