sábado, 21 de novembro de 2009

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Naquele verão, nos trinta dias que durou a viagem, usei o mesmo vestido bege drapeado cerca de vinte vezes. Ainda hoje, quando eu coloco esse vestido, minha mãe ameaça desmaiar. Eu o lavava no banho, ou no tanque no fundo da casa, quando ele ficava sujo de poeira e barro, e então dependurava no varal de arame esticado rente à parede, com todos aqueles biquínis, toalhas e roupas molhadas. Ele ficava ali, silencioso e tentador, secando. Era bom – leve, de linho, não pesava nos ombros vermelhos queimados ardidos de sol. Ao fim daquele mês, a barra descosturou, mas eu não quis jogar fora. Está dependurado ali no quintal. Praia com a família, que longe todos eles estão, cachorro rondando, primo catarrento querendo brincar. Arranhões nas pernas que deixavam tais brincadeiras com os primos, a areias e os cães, ou até o sol que a gente tentava alcançar quando se arrastava no chão, deixavam também hematomas pequenos nas pernas – joelhos e tornozelos – que ardiam tanto quando a gente entrava e reentrava no mar.

4 comentários:

  1. Foda!!!

    Estou adorando os desenhos anexados.

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  2. Nossa, os desenhos são lindos. assim como os textos.

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  3. "os desenhos são lindos, assim como os textos."

    Pago pau pra você, Laura. Muito.

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  4. Laura, velho...vc não tem noção do tanto que eu to amando ler isso. COMO EU NÃO ENTREI AQUI ANTES. eu não quero fazer mais nada a não ser ler seus contos. tá tocando mesmo.

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