quarta-feira, 18 de novembro de 2009

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Foi quando os ratinhos mortos começaram a aparecer: vinham um tanto maltradados, na cozinha, duros; e pelo tamanho ainda deviam ser filhotes, ou no máximo adolescentes. Apareciam de manhã, ou à tarde, depois de quando eu me ausentava e em seguida chegava no meu exausto horário marcado de voltar pra casa. Eu não os via vivos em nenhum corredor ou buraco do meu apartamento, eles apenas apareciam mortos, unicamente mortos, como se atingissem minha cozinha só para morrer - e neste assassínio através do meu veneno, eles me buscavam, como um afogado que sai pela praia depois de tanto mar, respira duas vezes e acaba como um alívio olhando fixamente para o oceano bonito que percorreram, logo depois de perceber a enorme inundação que possui por dentro.

3 comentários:

  1. Pode ser cobra, lesma, barata, minhoca.
    O único bicho que tenho pavor são os ratos.
    Pavor até de matá-los, se for o caso.
    Pavor, pavor.

    E sim, o texto está bom, como sempre.

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  2. Algumas substâncias podem levar até duas semanas no organismos dos ratos para levá-los a morte. Eles agonizam por dias.

    Nunca vi ninguém falar com tanta sensibilidade sobre ratos. Acho eles sabiam que iam morrer e por conhecer vc, queriam ter seus últimos minutos perto de alguém que olhasse pra eles com esse carinho.

    Realmente, seu texto é muito bonito. Me sensibilizou!

    Bj

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  3. Falando assim, com tanto jeitinho... até que a gente pensa em ser mais simpática com esses roedores.

    Bj

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