Útero, a palavra ressalta algo que minha mãe nunca teve. Ela gerava os filhos dentro de outros órgãos – um pulmão, o estômago, um rim, o baço, o apêndice. Nasci deste último inútil fragmento de seu corpo e vim pequena, com menos de sete meses. Não agüentei viver no amargor de dentro daquela mulher. E quase não vivi – apêndice improfícuo, inflamou de me ter lá dentro e ele saiu comigo do ventre magro de minha mãe, e nunca mais fez parte dela.
Mamãe usava anéis estreitos para dedos raquíticos. O cabelo sem corte não crescia além dos ombros, era deixado sempre preso e justo. Ela deixava o rádio ligado o dia todo, mas nunca escutou música. Ela nunca olhou de uma janela simplesmente por olhar. Nunca pintou as unhas, nunca plantou flores, nunca quis sair dali.
Não parece uma menina de 20 anos ao escrever. Parece mais velha. Coisas turronas de capricórnio, coisas sábias. Coisa de velho. Você é a terceira escritora que conheço que tem Escorpião como ascendente...
ResponderExcluirO mais lindo e cruel nisso é sua capacidade de arrancar o apêndice das letras... Tudo é tão arguto em Laura C.
Eu decidi que conseguiria escrever quando descobri a disciplina de manter uma horta nos fundos de casa. Ainda não plantei flores, fora as de manjericão, abundantes na terra. O carnaval, bem, é apenas mais uma chaga... sonora, talvez.
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