terça-feira, 9 de março de 2010

Dias amenos #8



Depois desses problemas que tivemos com o apartamento – a nossa quarta tentativa – resolvemos viver numa casa numa rua de sombra, que derrubava suas árvores quando chovia e a luz acabava, fazendo que nós nos sentássemos no escuro e conversássemos por horas, resultando em epifanias, brigas ou nas melhores noites de sono à partir das nove e meia da noite na minha vida e nas piores insônias de João, que insistia em continuar lendo com uma lanterna azul à pilha ligada que segurava com uma das mãos ou escrevendo com letra miúda, errando as linhas do caderno.

Sem saber o motivo, com ele eu dormia bem, eu podia ver de novo a sombra na janela de uma árvore que havia do lado de fora da primeira casa que ocupei durante a minha vida. Eu me sentia pequena de novo, e havia um conforto bom em ser pequena na hora de dormir.

Ao ter todos os móveis e caixas cheias de objetos, e armários com roupas dentro de casa, percebi que eu havia edificado um mundo a mais do que eu imaginava ter construído naqueles anos ruins, naqueles anos que pareceram não ter servido a nada, além das injúrias que me causaram, e, olhando para aquilo, me senti muito confusa – como se tivesse acabado de despertar de um sono ruim que, se olhado por dentro, não parecia mais ter algum sentido.

Aquilo, para o resto do mundo, enfim, era uma vida feita.

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