terça-feira, 5 de abril de 2011

Cascalho (V)

Que amor, que não o seu, deixaria essas marcas de mãos pesadas nos meus joelhos e pulsos, marcas de amor pesado, que não sabe outra coisa se não sê-lo bem, amor de criança, amor de mordida. Porque o mundo fez com que você se derramasse enquanto você acha que está maior que o mundo que habita: ou fora dele: mas você habita, continua andando na rua da minha casa ou numa rua a mil e seiscentos quilômetros de minha casa noutro país,
saiba, pois,
esta rua ainda é uma rua.
A sua vida não é simples. Ela não enxerga de longe os objetos raros que ela gostaria de ter (ou que ela faria questão de ter, apesar do fato eterno de não possuirmos nada verdadeiramente, nunca). Você mete as mãos e destróis, e depois tenta reatar algum pedaço e logo perde o interesse, disfarçando a culpa da quebra. Como se ter fome fosse capaz de resolver os seus problemas – ter fome como se a fome fosse um sentimento voluntário. Só posso te chamar assim,
de fome
de asco
de cascalho.

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