segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cascalho (VI)

Eu posso tolerar a sua dor, posso tolerar a sua carência, posso tolerar a sua injustiça, posso tolerar a sua solidão, posso tolerar a sua vontade, mas não posso agüentar de forma alguma a sua maldade. Sua vontade de me machucar. E menos ainda o resultado de sua fúria na minha pele.

Ivone não queria que eu deixasse você escapar. Que bom partido você era: um homem estrangeiro, capaz de outra língua do mundo. Ivone tirava outras de minhas obrigações na casa para que eu me ocupasse somente e unicamente de você. Eu dizia a ela que um homem jamais ocuparia tanto tempo livre que ela me dava, o que fez com que os arranhões e hematomas começassem a brotar. Poderia dizer que nem um cachorro mereceria o que você fez comigo, e creio, não posso dizer isso de um cachorro, porque todo ferimento aqui atribui-se à raça feminina, você descontava em mim a dor que descontaria numa mulher que hoje se encontra morta. E o mais estranho é que você se desculparia dez minutos antes de voltar a fazê-lo.

Então você jantou e partiu. Ivone não conversava a sua língua, mas ela pediu para você ficar. Você se desculpou e não ouviu. Ivone sentou-se, deixou o pano de prato dependurado na cadeira e olhou para mim com incredulidade.

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