terça-feira, 15 de junho de 2010

literatura comparada



Havia algo de estranho em tudo, algo de ancestral, aquilo dos poemas medievais, quando os eu líricos femininos (sempre escritos por um homem, dizem) cantavam “onde está o meu amigo? Quando volta o meu amigo?” para aquele que havia partido num navio (Ulisses de Penélope) enquanto ela esperava e falava à natureza da saudade – Saudade, já havia essa palavra espinhosa? Já se havia cunhado o conteúdo doído da casa vazia sem a voz do outro? Cidade vazia sem os cabelos do outro, cidade sem colo. Antes, amigo, essa palavra, Caio F. já havia narrado essas odisséias duplas e dúbias, dois amigos pela noite, dois amigos vivendo em cidades sem colo, e então um abria a porta do táxi para o outro entrar. Quando as coisas, a noite, tudo chega ao fim, uma rodoviária, um cheiro estranho e cinza de prédio antigo e despedida, para deixar-nos nesses cantos de saudade e de espera. Meu amigo, Hermes, do outro lado de um oceano, guarda o sabor doce de uma pêra.

(para Léo e Schiavo)

4 comentários:

  1. coincidência! eu li essa novela do caio recentemente. enrolei muito tempo pra devolver o livro, voltando sempre em alguns pedaços. hoje eu trouxe pra entregar pra biblioteca.

    ResponderExcluir
  2. Conheci Caio F. pessoalmente - foi meu passageiro. Essa palavra, "saudade", não tem tradução em outro idioma, pelo que sei.
    Há braços!!

    ResponderExcluir
  3. laurinha, tentei responder a altura, mas não consegui. e viu: eu só colocaria um pouco de cor neste cheiro estranho de saudade. penélope sempre soube tingir fios muito bem ;). brigadinho.

    ResponderExcluir
  4. a gente sente o gosto dos seus textos.

    ResponderExcluir