sexta-feira, 2 de abril de 2010

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Estas são as pernas, os lábios, os pés. Por baixo, o mesmo osso, por cima, se estende esse manto gasto e envelhecido, que não me parece tão horrendo já que também alcanço a mesma idade. Da primeira vez numa cama, você se lembra, pensei que íamos chorar, mas agora há uma espécie de pó sobre todas as coisas que nos impede qualquer reconhecimento. Nossos cheiros tinham nome. Uma rua, o cenário de um amor perdido. Nem as células da nossa pele são as mesmas, as antigas, sensíveis ao seu tato, táteis à nossa sensibilidade, de tantas noites em que nos seguramos acima de grandes espaços ocos. Este corpo não é o que te sentiu. É a mesma árvore, mas com o tempo – contado em anos desde a data gravada dentro de uma aliança de ouro – as folhas caíram e novas cresceram, enquanto as antigas ainda devem se decompor em algum lugar onde sequer sabemos onde fica.

3 comentários:

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  2. Me lembrei de meus avós. imaginei minha avó dizendo isso, ela deve sofrer vendo que o tempo passou e enrugou sua pele e principalmente a de meu avô. de certa forma, as folhas deles secaram, caíram e não nasceu mais nada depois.

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  3. Fabuloso!!! Esses seus textos fisgam a gente. ( :

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