segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Tarde

Há uma geografia do tempo para a qual nunca será criada uma moeda de percurso. Não falo de atravessar um espaço apenas (por exemplo da minha casa até a sua, da sua casa até o centro), mas no tempo impreciso e interrompido que levamos para ir de um lugar ao outro, e como ele sempre resulta em negatividade de atraso ou extrapositividade de espera. Não falo em pagar um pedágio, mas de não saber quanto tempo exato tenho que pagar para cumprir uma tarefa.

Os segundos caem como coisas incontáveis, caem como água, arroz cru, areia, posso demorar mais hoje e fazer mais rápido amanhã, e ver sobrar água no copo a mais do que eu tinha sede.Ou manter-me com sede por tempo demais, exausta de cada sensação de falta. Talvez ainda pudéssemos sincronizar passos e o horário do ônibus cheio que sempre atrasa, mas talvez se nesse atraso pudéssemos, por exemplo, trocar minutos por galinhas, ou por laranjas, mas quando não há uma moeda de troca estabelecida e canonizada, não saberemos se a troca foi realmente justa. Se cheguei, toquei a campainha, e vejo o sol indo embora, diferente de outros dias em que um sol forte e vermelho atravessava a fechadura e estourava um desenho na parede oposta, não posso olhar para um relógio que não carrego. Bato palmas como numa cidade que nem existe mais. Chamo seu nome. Penso de novo na teoria rarefeita dentro do ônibus e de repente percebo que não há nada que pague; foi bem aí que eu percebi que tinha chegado tarde.

2 comentários:

  1. Ah Laurosa, tava arrumando minhas coisas aqui e encontrei suas cartas. Foi delicioso relê-las. Bateu uma puta saudade. E poxa, Obrigado por tê-las escrito. Beijocas!

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