quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sobrar tempo

(Para Pedro-Cunha que tirou esse delírio da gaveta)


As pessoas que se estabelecem nas calçadas à noite
de pé e luminosas, sugam do estômago (enquanto
buscam nos letreiros no alto a indicação do tempo)
o lodo e a areia que existe lá dentro. Não expelem,
nem quando querem, as palavras
descascadas do lodo e enterradas na areia;
e percebem, quando marca a hora,
que vai sobrar tempo, por mais que
se canse o ar com sereno ou que se desobedeça tanto
os minutos do letreiro. Só voltam para casa
quando percebem o tanto que falta
para preencher com saliva e lama
a demorada mandíbula da morte.

4 comentários:

  1. mesma sombra ou o poema fora de fase



    nas ruas da cidade
    onde andam as pessoas
    e seus olhos de vidro
    com medo da própria sombra

    nas noites de saudade
    em que dormem seus travesseiros
    que sonham seus sonhos aterradores.

    e dançam, riem comem
    suas vidas fora de fase
    desperdiçando o momento, lembrando do passado
    não passam não passam
    a percepção atrasada
    o ciclo fora de fase
    o ciclo vicioso fora de fase
    desperdiçando o momento, lembrando o passado


    as celebrações dos gestos
    escondidos de sutis
    nas ruas da cidade
    onde andam as pessoas
    e seus olhos de vidro
    com medo da própria sombra

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  2. Lindo Marcos. Um poema já rende outro poema e mais outro poema.

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