
Havia algo de estranho em tudo, algo de ancestral, aquilo dos poemas medievais, quando os eu líricos femininos (sempre escritos por um homem, dizem) cantavam “onde está o meu amigo? Quando volta o meu amigo?” para aquele que havia partido num navio (Ulisses de Penélope) enquanto ela esperava e falava à natureza da saudade – Saudade, já havia essa palavra espinhosa? Já se havia cunhado o conteúdo doído da casa vazia sem a voz do outro? Cidade vazia sem os cabelos do outro, cidade sem colo. Antes, amigo, essa palavra, Caio F. já havia narrado essas odisséias duplas e dúbias, dois amigos pela noite, dois amigos vivendo em cidades sem colo, e então um abria a porta do táxi para o outro entrar. Quando as coisas, a noite, tudo chega ao fim, uma rodoviária, um cheiro estranho e cinza de prédio antigo e despedida, para deixar-nos nesses cantos de saudade e de espera. Meu amigo, Hermes, do outro lado de um oceano, guarda o sabor doce de uma pêra.
(para Léo e Schiavo)