quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Luz Vermelha

Estou em Lima e olho pela janela do quarto de hotel às sete ou oito da noite. Temos cerca de dois metros de altura com seus respectivos dos metros e um pouco mais de cortina. Alguns prédios estranhos se amontoam atrás do prédio baixo da frente, e posso ver muitas janelas, apesar de Lima ser uma cidade reta, plana, terreno abençoado enquanto se amaldiçoa o clima. Trinta e dois anos sem chuva, pues sí, no lo creo, llevan treinta y dos años sin llover. Aqui, acredito que tenha usado roupas pretas demais – ficou na memória, depois de voltar da tradicional e sem fôlego combinação de altitudes exacerbadas estrangeiras, Cuzco y Macchu Picchu, umbigos do mundo, com os joelhos das calças verdes listradas sujos de lama e o coração amaldiçoado. Vi por aquela janela de hotel, ao longe, do outro lado - ali. Dá pra ver? É uma janela vermelha, num prédio alto y gris del barrio Miraflores. Não sei se a luz do cômodo é vermelha, se as janelas são pintadas de um vermelho translúcido que nem de esmalte rebu ou se essa é de novo mais uma daquelas ilusões que nos pregam a memória de viagem. Do outro lado da rua, há um café – Café Love, o batizaram assim, o letreiro é luminoso e do lado de dentro há espelhos correndo pelas paredes rentes às meses. Quando a dor de garganta começou, Dani, Nana e Lu me levaram para um chocolate quente com risadas. Eu as amei, elas jantaram, mas eu não pude engolir meu martírio. Tive medo de não melhorar. De fato, não melhorei, e eu como intérprete prodigiosa de tal língua sacana, fiquei com febre e fiquei de cama, incapaz de boates às quais as meninas se entregaram. Na hora da nossa partida, quando fui arrumar as malas, ardendo no quadragésimo andar da ilusão (sonhei de novo com os incas), liguei a tevê, um tal de Gabo havia morrido e, quando Tracy Chapman começou a cantar copiosa de desejo por uma fuga num carro rápido, eu chorei de novo.

3 comentários:

  1. E eu que achava que Tracy Chapman fosse homem.
    Gosto desse seu jeito veado em lidar com nomes de cores pouco conhecidas. Coisa de rata de ateliê ou mulherzinha, esmalte rebu, porra, nao fica mais facil dizer esmalte vermelho... é quase a mesma coisa. Suas amigas piriguetes se jogaram na noite, sacanagem, mano.

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