sexta-feira, 25 de março de 2011
Cascalho (II)
Você veio da última vez procurando por uma mulher – não alguma mulher, mas uma mulher específica. Há um anos na feira você reaparecia, sempre estrangeiro, enquanto eu estava fazendo compras para a casa de Ivone. Lembro-me do seu rosto: ele é branco, quase rosado, e não sabe sorrir para as fotos. Tem a bravura de um estrangeiro. Me pergunta, em sua língua, o que eu estou fazendo ali. Digo, sou daqui, pertenço a esta cidade, nasci aqui e volto quando há tempo para ficar livre com minha família. Falo a sua língua de estrangeiro enquanto tenho castanhas e frutas nas mãos – torno a sua palavra minha quando a digo com meu sotaque cheio de rompimentos. Parece estar emocionado por me encontrar ali, no perfume dos temperos ou de cavalos, te convido a minha casa. Você tem uma mochila nas costas. Pergunto se tem onde pernoitar.
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c'est très magnifique!, Lauroca.
ResponderExcluirLembrou-me a aridez da escrita de Raduan Nassar, talvez não concorde.
"estrangeiro", "castanhas", "frutas", "rompimentos", "temperos", "cavalos"!
Árido e belo.