Ele e ela trocam olhares na aula de alemão há mais de três meses. Ele é dono de uma aparência frágil e uma dessas timidezes patéticas, daquelas que o fazem corar quando é repreendidos, quando tem que falar em frente a qualquer pessoa que ele não conhece, quando toma o elevador e fica no meio de quatro mulheres e até mesmo quando perguntam a ele onde fica a rua tal. Ela o encara longamente na última quarta-feira de sete às oito da noite. Ele deixa sempre sob a cadeira o celular, as chaves de casa, as chaves do carro, um estojo amarelo, patético e envelhecido e sua carteira. Ele se senta sempre no mesmo lugar, religiosamente, enquanto ela freqüenta aleatóriamente todos os cantos da sala. Ela não sabe nada sobre ele. Por um tempo cogitou o homossexualismo, por ele ser delicado demais e por se vestir com algum gosto. Porém era muito descuidado: cabelos sem corte, barba malfeita, jeans com a barra arrastando no chão. Estava sempre mais para um nerd legítimo do que para um gay. Tinha uma voz agradável e limpa e aquele cheiro dos meninos que dormem muito.
Quando a professora dá feliz páscoa a todos em alemão, os doze alunos descem pelas escadas ou pelo elevador. Na calçada todos se despedem e ele diz seus tchaus tímidos, caminhando em direção a um palio cinza. Ela vai até aquele carro assim que ele desaparece no vidro escuro e abre a porta do passageiro, entrando sem dizer uma palavra. Ele está com um daqueles porta-CDs no colo, provavelmente escolhendo alguma música e arregala os olhos ao vê-la ali. Não pensam. O puxa pelo ombro direito e lhe dá o beijo mais dramático que conseguiria dar.
Ela sai do carro, desaparece na esquina, volta para casa e não toma banho. O cheiro dele é perturbador demais para ser esquecido assim. Apenas troca de roupa rapidamente, se maqueia, sai com alguns amigos, enche a cara e dança a noite toda. Não beija nenhum outro homem, apesar das ofertas: o primeiro de uns trinta anos com uma camisa xadrez, o segundo com a camiseta dos Libertines e um terceiro que cheirava a perfume caro, suor e bafo de cigarro. Às quatro volta para casa, desmaia na cama desarrumada (cheia de vestidos abandonados sobre o lençol) e no dia seguinte, às dez, seu café da manhã é sorvete de chocolate e uma xícara de chá indiano sem açúcar.
Fodaaaaaa!!!
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