segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Mudança de endereço

Amigos,
Estou de mudança de blog!
Obrigada aos que acompanharam aqui, e aos que eu acompanho, continuarão na minha lista de leituras
Beijos a todos
Laurinha

domingo, 13 de novembro de 2011

História do Fim - pelo correio

Estive sumida deste blog por algum tempo, não por falta de produção mas por excesso...

Para manter o blog vivo, mostro um trabalho que fiz numa matéria da artes gráficas na EBA que foi produzir uma espécie de jornal de literatura. Olha só:


Fiz algumas impressões em preto e branco disso também, e quem quiser, é só me deixar o endereço (nos comentários ou por laurinha.cohen@gmail.com) que eu envio uma cópia pelo correio pra sua casa.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Tarde

Há uma geografia do tempo para a qual nunca será criada uma moeda de percurso. Não falo de atravessar um espaço apenas (por exemplo da minha casa até a sua, da sua casa até o centro), mas no tempo impreciso e interrompido que levamos para ir de um lugar ao outro, e como ele sempre resulta em negatividade de atraso ou extrapositividade de espera. Não falo em pagar um pedágio, mas de não saber quanto tempo exato tenho que pagar para cumprir uma tarefa.

Os segundos caem como coisas incontáveis, caem como água, arroz cru, areia, posso demorar mais hoje e fazer mais rápido amanhã, e ver sobrar água no copo a mais do que eu tinha sede.Ou manter-me com sede por tempo demais, exausta de cada sensação de falta. Talvez ainda pudéssemos sincronizar passos e o horário do ônibus cheio que sempre atrasa, mas talvez se nesse atraso pudéssemos, por exemplo, trocar minutos por galinhas, ou por laranjas, mas quando não há uma moeda de troca estabelecida e canonizada, não saberemos se a troca foi realmente justa. Se cheguei, toquei a campainha, e vejo o sol indo embora, diferente de outros dias em que um sol forte e vermelho atravessava a fechadura e estourava um desenho na parede oposta, não posso olhar para um relógio que não carrego. Bato palmas como numa cidade que nem existe mais. Chamo seu nome. Penso de novo na teoria rarefeita dentro do ônibus e de repente percebo que não há nada que pague; foi bem aí que eu percebi que tinha chegado tarde.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Postal para o Eduardo

(Enviado pelo correio para o Eduardo, que já respondeu no blog dele)



Ao pensar em você, sem querer quis saber a quantas anda seu coração, ou a quantas andam as suas mulheres, os seus amores, os seus poemas. Elas caminham ou te abandonam? Bordam ou acenam? Pregam um botão na sua camisa? Quantas são elas? E de que forma inexata despertam essa sua musa intermitente?
Um abraço, Laura Cohen.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

postal para curar uma mononucleose

(Enviado para a Ana Paula)



Postal para curar a sua mononucleose
Onde dói mais esse vírus Epstein-Barr?
Procuro em toda parte e apesar do seu nariz entupido e do seu pulmão impedido, só leio a palavra "gânglios". Será que o correio entrega gânglios novos em casa? Consigo dessa vez mandar um pulmão novo, para ver se agora você consegue conversar conosco.
Um beijo, Laurinha

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ossário (III)

Hoje de manhã havia uma menina no ônibus... Parecia que ela tinha passado a noite fora, pelo modo que ela quase dormia encostada no vidro, os cabelos presos e um cheiro de banho misturado a um cheiro de cigarro, misturado a uma maquiagem borrada num rosto meio sujo meio limpo. Estava tão cedo que o sol não tinha ainda ultrapassado a linha dos prédios, de modo que havia essa luz difusa em tudo, em todas as partes, mas em lugar algum.

Dormi pesado essa noite, digo, de ontem pra hoje. Havia algo naquela menina que me lembro uma cidade, me lembrou Berlim e outras cidades muito móveis que conheci muito mal, ou me lembrei especificamente do apartamento dele no fundo de um corredor muitíssimo comprido... Talvez tenha sido esse cabelo loiro da menina do ônibus. Outro dia Flora me mandou uma carta dizendo que viajar (como apaixonar-se) é uma experiência de morte, e talvez por isso essa necessidade de viajar tanto, para aprender a conviver num silêncio cotidiano com todo o sentido das coisas.

Passei hoje por quatro vezes em frente a um cemitério, e por volta das onze enterravam uma pessoa... Me lembro daquela viagem de trem que fizemos, e que decidimos parar no meio do caminho numa cidade que havia sido destruída na década de quarenta (não direi o nome da guerra ou da cidade) e nós víamos nos cartões postais imagens da cidade destruía, enquanto andávamos em lugares confusos e antigos. Disse que a mãe dele havia nascido lá, e havia essa noiva tirando fotos... Me impressiona como essas noivas adoram se casar entre ruínas, comentei a respeito de Ouro Preto, que havia sempre uma noiva.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ossário (II)

Olho para o osso da bacia dele despontando quase para fora da pele. Posso esticá-lo com os dedos, como se ele fosse de balão, e ver o osso mais de perto por dentro da carne, mas tenho medo que a carne se rompa e sangre nos meus dedos um rasgo que eu não vou poder alcançar. Enquanto descansa parece novamente frágil. Os pêlos raleiam aqui e aumentam mais embaixo, engrossam, escondendo uma parte do corpo que parece ter pudor de existir. Depois, uma barriga voltada pra dentro (se ele está deitado de costas, posso chamar essa parte dos homens de “ventre?”), endurecida e um pouco estufada bem abaixo do umbigo muito infantil que ele tem, saltado pra fora, seguindo os pêlos num caminho reto até onde o peito existe, e ele se espalha. Uma linha da pele grossa brilha, repasso o dedo na cicatriz que me deu nojo faz uma hora. Acho que me acostumo com ela, longa o bastante para substituir um coração defeituoso por um coração de um morto gelado. Esse coração não é meu, diria quando eu lhe desabotoei a camisa com os dedos tremendo. Fala como quem perdeu um braço há dez anosr. Espalmo a mão e confiro que sob a pele quente e confiro se ele age pulsando como um coração normal.